Eu estou prestes a dar um passo, não sei se ele vai dar em um outro caminho, ou simplesmente em um abismo. Era tão bom ser criança: eu chorava porque minha mãe levantava a voz pra mim ou eu caía e me machucava, ficava triste quando acordava tarde demais e perdia os desenhos na tv, tinha raiva quando meu amiguinho pegava meu brinquedo preferido, me preocupava quando tirava 8 em uma prova, brigava quando uma brincadeira não saía do jeito que eu queria. Minha prioridades eram mesmo hilárias, mas super importantes pra mim, que fique bem claro.
A gente sente quando uma coisa está acabando, eu estou sentindo nesse momento. Engraçado, eu não percebi o término da minha infância. Eu comecei a ver que algumas coisas não me importavam mais, e surgiram problemas novos, antes não considerados como tais. As pessoas começaram a não me considerar uma criança: eu não podia entrar mais em alguns brinquedos no parque de diversões, não ganhava mais presente de dia das crianças, não chamava mais a professora de tia. Era tudo novo, eu não queria isso.
Foi aí que eu decidi manter a essência infantil sempre comigo. Mas parece que as pessoas não gostam quando a gente age como se nunca tivesse crescido, isso deve ser coisa de adulto. Eu nunca entendi, sempre quando a gente toma uma atitude que não digna de aprovação, dizem que estamos agindo como criança.
O que é ser criança?
É manter o sorriso no rosto? Ser egoísta ao ponto de manter as coisas que lhe fazem bem perto de você? Zelar por alguma coisa e acreditar que ela tem vida e sentimentos? Correr por aí como se toda a energia do mundo fosse sua? Ser inocente ao ponto de crer na bondade e em sentimentos puros? Encontrar soluções práticas e achar que tudo é complicado demais para se preocupar tanto?
Se for isso, eu sempre ajo como criança. Porque quando a gente é assim, sabe que existe maldade, mas acredita que ela mora bem longe. A gente não se sente incapaz, porque sempre sabemos que um dia alguém vai nos ensinar aquilo que queríamos tanto aprender.
Eu tenho medo, medo de entrar em um mundo desconhecido onde os sentimentos não são prioridades, medo de perceber que a maldade pode morar ao lado da minha casa ou até comigo, medo de sentir que eu sou como a maioria dos adultos, medo dos próximos passos, medo de chorar por alguma coisa que não seja a voz da minha mãe em um tom mais alto ou um arranhão provocado por uma queda durante uma corrida.
Eu estou prestes a dar um passo, e eu não quero acreditar que ele vai dar em um abismo. Eu tenho medo do que é ser adulto.